Uma das facetas do Shiatsu que não se discute com frequência em livros é a do auto- aperfeiçoamento. É que não se trata somente de uma técnica a aplicar durante as horas de trabalho e que, depois, se põe de lado o resto do dia. Para se ser um terapeuta de Shiatsu tem de se assimilar os princípios e teoria, de tal forma que o Shiatsu se torne presente em todos os aspectos da vida. Exactamente como o ioga, a meditação ou as artes marciais podem ser um espelho que focaliza os progressos feitos na vida, também o Shiatsu se pode tornar no ponto focal através do qual se avalia a maneira como nos relacionamos com o Eu, os outros e a vida. Quando o Shiatsu está a correr bem, o diagnóstico torna-se muito fácil e claro, as técnicas fluem suavemente, as intuições transformam-se em certezas, fazem-se e dizem-se as coisas apropriadas para melhorar a saúde. Resumindo, o bom Shiatsu é tão agradável na aplicação como na recepção de tratamento.
Muitas vezes os alunos de Shiatsu começam por ser pacientes e, ao descobrirem que o Shiatsu pode conceder uma estrutura para o entendimento de si mesmos, começam a estudá-lo como uma via para uma autodescoberta mais profunda. Auxiliar as pessoas e curá-las por meio do Shiatsu é quase um produto secundário, num certo sentido, do processo de auto-aperfeiçoamento. A capacidade de auxiliar e tratar encontra-se na proporção directa da quantidade de trabalho pessoal que o aluno está preparado para investir. Um profissional de Shiatsu não pode, realmente, ser eficaz se o seu estado energético ainda não se encontrar equilibrado e harmonioso. Saber só teoria e técnica não chega: a Ki deve ser forte, o que conduz a um corpo saudável e a uma perspectiva de vida harmoniosa.
Não é invulgar os alunos passarem por grandes alterações na sua vida, durante o curso. A medida que muda a sua percepção do mundo com o novo entendimento e a nova sensibilidade à energia, vão surgindo assuntos pessoais que têm de ser resolvidos. Isso pode acontecer nas relações, na reavaliação da sua profissão ou objectivo na vida, reacção ao luto ou ao nascimento, ou na cura de uma doença há muito existente. No quadro “seguro” da aula de Shiatsu podem discutir-se problemas, dar-se apoio e, graças aos princípios do Shiatsu, tratamento para ajudar o indivíduo através da experiência. Encoraja-se os alunos a observar profundamente e a trabalhar para a sua própria saúde – física, emocional e espiritualmente.
O auto-aperfeiçoamento está implícito no ensinamento do Shiatsu. As aulas começam habitualmente com um período de Do-in (Shiatsu pessoal), estiramento, exercícios de Qi Gong (semelhantes ao Tai Chi) ou um aquecimento geral de rotina. A isso pode seguir-se a meditação, exercícios respiratórios ou exercícios de sensibilidade à Ki destinados a desenvolver nos estudantes a capacidade de a sentir. A disciplina em causa, que se inicia na sala de aula, prolonga- se na vida do terapeuta de Shiatsu. A maioria faz diariamente meditação, ioga ou estiramentos relacionados com o Shiatsu, para assegurar uma boa forma física e bem-estar psicológico. E, naturalmente, praticar Shiatsu só por si traz à cena a fluência da própria Ki de quem o faz. Pela respiração profunda, e ao aplicar Ki ao paciente, a Ki do terapeuta entra em jogo, estimulando, por conseguinte, a fluência da Ki do receptor, onde esta for mais necessária. Quando a Ki do terapeuta é fraca ou está perturbada, esse factor prejudicará a qualidade da terapia Shiatsu, assim como a capacidade de estimular a Ki do receptor. Desta forma, a cura tem mais possibilidades de se dar quando a Ki do terapeuta é forte e este se encontra “em forma”.
Assim, podemos ver que o Shiatsu é um processo ambivalente. O terapeuta empresta capacidade, experiência e conhecimento, como catalisador do processo de autocura do doente. Este entrega-se, como meio através do qual o terapeuta pode praticar a sua arte. A troca energética que citámos exemplifica uma das primeiras leis do universo: tudo se encontra em mudança e a energia está constantemente numa situação de fluência e mudança.
Artigo retirado :
FICHA TÉCNICA
Título Original: Shiatsu. Japanese Massage for Health and Fitness Tradução: Paula Reis
Capa: José Antunes
Composição: Byblos – Fotocomposição, Ltda.
Edição original publicada por: Element Books, Limited Grã-Bretanha
Editorial Estampa, Ltda., Lisboa .